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A rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer e a suspensão do afastamento do senador Aécio Neves trouxeram de volta um sentimento conhecido do brasileiro: aquela velha sensação de que o combate à corrupção é inútil, pois sempre haverá um atalho legal, um drible jurídico ou uma manobra política capaz de salvar a pele dos mesmos suspeitos de sempre. O inconfundível cheiro de pizza tem se imposto ao sopro de esperança trazido nos últimos anos pela Operação Lava Jato.

Decisões recentes do Tribunal Superior Eleitoral, do Supremo Tribunal Federal (STF) e dos plenários da Câmara e do Senado sugerem que ela caminha a passos céleres ao mesmo destino da Operação Mãos Limpas, na Itália. Por lá, medidas legislativas reduziram os poderes da Justiça, fizeram crimes prescrever, tiraram condenados da cadeia e criaram uma sensação de impunidade ainda maior que a anterior às investigações. A corrupção ficou mais despudorada. Antes, pelo menos os corruptos tinham vergonha na cara”, afirmou o ex-procurador Gherardo Colombo, num evento que reuniu em São Paulo, as estrelas da Lava Jato e da Mãos Limpas.
O procurador Deltan Dallagnol, da força tarefa da Lava Jato, em Curitiba, reconheceu os limites do Judiciário no combate à corrupção. “É preciso ir além da Lava Jato. Não há solução fora do sistema político”, disse. Ele propôs uma espécie de selo de qualidade a candidatos que se comprometerem com uma agenda anticorrupção em 2018, similar às Dez Medidas do Ministério Público (MP) que naufragaram no Congresso há um ano. Em luta contra a corrupção, Dallagmol expõe seu caso. Compara o mal, cujo prejuízo ao Brasil estima em R$ 200 bilhões anuais, a um “serial killer que mata em silêncio”. “Ela se disfarça em buracos de estradas, falta de medicamentos, crimes de rua, miséria”, escreve. Mas, como se esconde, dificilmente é responsabilizada pelas mortes que causa”.
A principal razão a que atribui a persistência da chaga é a impunidade, resultado de um sistema jurídico com inúmeras brechas favoráveis aos criminosos. Boa parte das medidas se voltavam a fechar tais brechas. Ao lado dos italianos, o juiz Sérgio Moro lembrou uma frase de Joaquim Nabuco, na longa campanha do abolicionismo, que comparou ao combate à corrupção: “Há necessidade de manter infinita esperança”. Até hoje, infinita tem sido apenas a nossa paciência – e a tolerância com a impunidade.
Síntese da Coluna do jornalista Helio Gurovitz – Fonte: Revista Época